O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.
Jesus Cristo
O novo testamento não difere do antigo testamento em vários aspectos. Algumas leis e vários costumes foram, no novo testamento, abolidos, mas a responsabilidade social ante a pobreza e os efeitos colaterais causados por ela são lembrados a todo instante. Quando permeamos os evangelhos, o livro histórico neotestamentário, as cartas paulinas, as cartas universais e o livro da revelação (APOCALIPSE) fica evidente o que afirmamos acima.
Olhando para a língua em que foi
escrito o novo testamento (grego) encontramos os seguintes termos para pobre e
pobreza: penichros (penicrov) significando pobre e necessitado, ptochos (ptwcov) que traz o sentido de aquele
que foi reduzido à pobreza, mendicância, pedinte, desamparado, indigente,
destituído de cultura intelectual que as escolas propiciam, penes (penhv) somente pobre e husterematos
(husterematov) que significa pobreza, falta ou deficiência daquilo que se
precisa, necessidade. Todos esses termos são aplicados de maneira objetiva no
novo testamento, mostrando que a pobreza jamais é esquecida por Deus.
A pregação do
evangelho não veio somente para os socialmente privilegiados, o evangelho não
era uma ferramenta de libertação politica da escravidão vivida pelos judeus
como consequência da opressão romana que dominava o mundo de então, mas, Jesus,
no evangelho de Lucas 7.18-22, mostrara que sua missão, e uma das provas que
ele de fato era o Messias prometido, se devia ao fato de que o evangelho estava
sendo pregado aos pobres. Os socialmente desfavorecidos não são esquecidos nas
paginas do novo testamento, por isso a igreja ou aqueles que se chamam cristãos
não podem esquecê-los, e é justamente este o proposito de nossa fundamentação
teórica desse item formado a partir do novo testamento.
O novo testamento trata da pessoa central e mais importante para o
cristianismo, Jesus Cristo. Os seus ensinos e os efeitos desses ensinos que
foram registrados servem de modelo para a igreja cristã do século XXI. O
próprio Jesus em suas palavras registradas no evangelho de João (20.21) se
coloca como modelo a ser seguido, os apóstolos imita a Cristo e incentivam os
cristãos a fazê-lo também: “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.”
(1CORINTIOS 11.1). A incontestável verdade é que sem a pessoa de Cristo e de
seus ensinos não há cristianismo.
Jesus era pobre. Os evangelhos
registram o nascimento de Jesus em uma família socialmente pobre. Maria e José
não têm títulos e nem influência. A afirmativa de que eles eram pobres esta
registrada em Lucas 2.23-24 (você pode comparar com Levítico 12.8), onde
durante a consagração de Jesus eles levam um casal de pombos, mostrando a falta
de condições de oferecer um sacrifício de um animal maior, um cordeiro por
exemplo. Jesus nasceu numa manjedoura, não num palácio, como acreditavam alguns
em sua época.
A cidade natal de Jesus, Belém, talvez nunca
tivesse a notoriedade que tem hoje se ele não tivesse nascido lá. A infância e
adolescência de Cristo foram vividas em outra cidade subdesenvolvida, a cidade
de Nazaré, mais tarde um homem chamado Natanael duvida de Jesus quando toma
conhecimento de sua cidade: “De Nazaré pode sair alguma coisa boa?” (JOÃO
1.46). A entrada de Jesus em jumentinho narrada no evangelho de Mateus 21.1-16,
mostra o estilo que ele trazia consigo. Carlos Queiroz (1998) diz que Cristo
era um tipo de rei que afrontava os modelos estratificados da sociedade. A
profissão de seu pai, carpinteiro, revela outra parte da realidade social
vivida por Jesus. Durante seu ministério dependeu de um grupo de mulheres que o
sustentava e não possuía um lar (Lucas 8.2 e 9.58).
Os judeus de seu tempo atribuía a
pobreza uma espécie de maldição divina e a riqueza como evidência da benção do
divino. O estilo de vida de Cristo contradiz esse paradigma judeu, afinal
Cristo vive sem pecados e mesmo assim assume uma condição de pobreza. Porém, a pobreza não deve ser encarada,
biblicamente, como uma virtude, mas, como um mal a ser eliminado e com o qual
Deus mostra profunda preocupação.
A missão de Cristo é afirmada por
ele quando, citando Isaías 61.1-2, diz:
O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.
Note que o texto diz claramente que
uma das prerrogativas ministeriais de Cristo era a anunciação do evangelho aos
pobres. Isso também foi confirmado quando Cristo afirma a João Batista que em
Lucas 7.22 que “aos pobres é anunciado o evangelho”. Os discípulos escolhidos
por Jesus eram pobres. O estilo de vida
de Jesus e a escolha de seus discípulos coadunam com o ensino registrado em
Tiago 2.5: “Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são
pobres, para serem ricos em fé e herdeiros do reino que ele prometeu aos que o
amam?”.
Ele conviveu com pecadores e publicanos,
acolheu pobres, libertou prostitutas, curou aqueles que viviam as margens da
sociedade, ensinou a estrangeiros discriminados pelo seu povo, como o caso da
mulher samaritana (JOÃO 4.1-30). Até em sua morte podemos ver seu estilo de
vida, ele não tinha um tumulo para ser sepultado, e só o teve pela generosidade
de um homem rico chamado José de Arimatéia. Isso nos remete ao que o apóstolo
Paulo escreveu em 2 CORÍNTIOS 8.9 : “pois conheceis a graça de nosso Senhor
Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua
pobreza, vos tornásseis ricos.”
Houve dois homens ricos que foram ao
encontro de Jesus, o primeiro um jovem riquíssimo que ouviu que deveria vender
tudo o que tinha e dar aos pobres e depois seguir a Cristo (LUCAS 18.22,23),
mas não conseguiu faze-lo. No celebre sermão do monte Jesus fala que não se
pode servir a Deus e as riquezas (MATEUS 6.24), as riquezas para o cristão, e
de acordo com ensino de Cristo, deve estar a favor dos homens e nunca contra os
homens, ela deve ajudar e não separar, o desprendimento em relação à riqueza e
aos bens materiais é necessário para que haja justiça, e essa justiça deve ser
praticada por aqueles que querem seguir a Cristo.
Em outros textos, Jesus da à mesma
ênfase que foi dada ao jovem rico, Lucas 12.33 e 14.33 indicam que a riqueza
não pode ser um empecilho, um óbice, para aqueles que querem se tornar
discípulos de Cristo. Outro pensamento extraído destes textos é que as riquezas
não devem servir de bens para desfrute de pequenas massas egoístas, mas devem
servir de bem comum à humanidade, suprindo a necessidade de todos igualmente.
A visão de posses de acordo com o
pensamento de Cristo difere dos padrões vividos por muitos cristãos de
hoje. O segundo homem foi Zaqueu, que
trabalhava na cobrança de impostos, após encontrar-se com Jesus decide doar
metade de seus bens aos pobres. A atitude de Zaqueu leva a declaração de Cristo
“hoje veio salvação a esta casa”, ao que o texto denota o sinal de conversão
foi o desprendimento em doar, em ajudar.
No evangelho de Mateus 25. 35-45 Jesus
afirma que um dos critérios usados por Deus no julgamento, se dará com base nas
atitudes do homem em relação ao socialmente desfavorecidos. A atitude correta,
de acordo com esse trecho, é saciar a sede dos sedentos, saciar a fome dos
famintos, vestir os que estão nus, dar abrigo aos estrangeiros, prestar auxilio
aos enfermos e encarcerados. Em suma Jesus Cristo se fez pobre, pregou aos
pobres, se dou aos pobres e ensinou a atitude correta que devemos ter diante
dos pobres.
Os pobres foram alvo das mensagens de
Cristo veja o que evangelista Lucas registrou: “então, olhando ele para os seus
discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino
de Deus” (LUCAS 6.20). Não podemos negar o cuidado de Cristo para com o pobre,
mas e a igreja? Será que em seus primórdios houve a mesma compaixão, a mesma
visão? Os continuadores da propagação do evangelho levaram a mesma mensagem de
amor ao próximo e cuidado aos desfavorecidos? Indubitavelmente, podemos afirmar
que a igreja primitiva[1] e os discípulos de Cristo
continuaram o legado de amor, respeito e ajuda aos pobres.
Continuamos nossa pesquisa através
dos livros neotestamentários. O livro histórico do novo testamento, Atos dos
apóstolos ou simplesmente Atos, trata da formação da igreja e da continuidade
da pregação da mensagem de Cristo pelos seus discípulos. Em meio a perseguições
e acontecimentos surpreendentes a igreja cristã começa a ser formada. O inicio
da igreja é marcado por um profundo zelo pela pureza da mensagem cristã, pela
tarefa árdua de anunciação dessa mensagem e pela prática incansável e indelével
da igreja para aplicar a mensagem de Cristo integralmente.
Os textos de Atos 2.42-45 e 4.32-35
mostra o modo de como os primeiros cristãos viviam. A visão do bem comum, onde
todos os bens pertenciam a todos, era aplicada, os primeiros cristãos não
visavam individualmente suas propriedades, mas os bens pertenciam a
generalidade, é o que o adjetivo grego para comum koinos (koinov), que aparece no verso 44, exprime. O trecho de 4.32-35
revela um tipo de sentimento que havia entre os neófitos e os cristãos de fé
arraigada, havia unanimidade, os bens deveriam servir a todos, eles dividiam
uns com os outros tudo que eles tinham, e o resultado desse tipo de sociedade é
expresso no verso 34 e 35, onde fica visível a eliminação da pobreza:
“Não havia entre eles nenhum necessitado, pois todos os que tinham terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro e o entregavam aos apóstolos. E cada pessoa recebia uma parte, de acordo com a sua necessidade.” (NTLH).
Ressaltamos que essa comunidade
cristã não agia dessa forma por obrigação ou exigências impostos pelos
apóstolos, como aconteceu com os essênios que repartiam seus bens por uma
imposição legalista, mas simplesmente pela mensagem cristã que havia sido
assimilada pelos novos conversos, o ensino de amor ao próximo finalmente é
expresso na sua totalidade, afinal o desprendimento em favor do necessitado
acontece, e qual maior prova de amor ao próximo se não a coragem de dividir e
se doar a seu favor. Contudo a liberdade de escolha individual foi preservada
como exposta em Atos 5.4. A vida na igreja primitiva valoriza o ser humano. Os
bens, a propriedade privada, o desejo de acumulo de bens são trocados por uma
vivencia real e concreta de uma comunhão ímpar. O mero ideal teórico de uma
sociedade justa é experimentado, pelo menos por algum tempo, de forma real. Esse não era um novo modelo de sociedade como
assevera Boor (2003):
Os terrenos e as casas continuavam sendo propriedade inviolada de cada um. Mas ninguém se arvorava em seu direito de propriedade e defendia seu patrimônio. Aqui não se ensaiava um novo modelo social, nem se definia um novo conceito de propriedade. Aqui a posição interior era completamente nova. Essa atitude repercutia em todos, tanto naqueles que, como Maria, a mãe de João Marcos (At 12.12), conservou sua grande casa, a fim de torná-la útil de outro modo para os irmãos, e também naqueles que, como Barnabé, de fato venderam seu terreno. “Tudo lhes era comum”, ou como também poderíamos traduzir: Consideravam tudo como propriedade comum [2].
A preocupação era evidente na
igreja, o amor ao próximo e o cuidado com os necessitados era uma faceta
normal do discipulado cristão. Mas a jovem igreja começa a enfrentar problemas
de cunho social, Atos 6.1-7 narra o começo de um favoritismo na distribuição de
donativos que ocorria diariamente no seio da igreja. Os helenistas[3] estavam sendo esquecidos e
os hebreus favorecidos. A narrativa mostra que os apóstolos convocaram uma
reunião com um fim específico, a resolução deveria ser pronta e não poderia
continuar com favoritismo e que os necessitados pudessem ser atendidos em suas
necessidades igualmente. O mal estar foi resolvido, eles elegeram sete homens
que ficaram responsáveis de administrar o fundo dos bens, garantir equidade na
distribuição de alimentos para os empobrecidos. Esses homens ficaram conhecidos
como diáconos, pessoas que, em virtude do ofício designado a ele pela igreja,
cuida dos pobres e tem o dever de distribuir o dinheiro coletado para uso deles.
Fica patente que mesmo em meio a
problemas surgidos na igreja primitiva, os pobres não deveriam ficar em
esquecimento. A função diaconal empregada em alguns núcleos religiosos no seio
protestante, em nada se assemelha com o papel desempenhado pelos primeiros
diáconos. A diaconia serve, biblicamente, como um órgão estruturado e ativo na
ajuda aos pobres, dentro da igreja. Cabe ao diácono identificar, apontar,
levantar fundos e ajudar os necessitados, fazendo isso estará “servindo a mesa”
como foi instruído pelos apóstolos de Cristo. Destacamos o verso 3 do capitulo
6, os discípulos atribuem a essa função um papel importantíssimo o chamam de
“...sobre este importante negócio.” (ARC)
Há um exemplo impressionante do
livro Atos 9.36 onde é lembrada uma mulher cristã chamada Tabita, a bíblia
expõe que essa mulher “... usava todo o seu tempo fazendo o bem e ajudando os
pobres...”, ao que o texto traz, tinha uma grande admiração por parte das
viúvas. Já o capitulo 10 fala de um homem piedoso chamado Cornélio, oficial do
exercito romano, que continuamente ajudava aos social e se antecipava e se
apressava em ajudar, um profeta chamado Ágabo previu uma grande fome, diante
disso a igreja de Antioquia, ao invés de pensarem em si, se uniu para enviar
socorro aos irmãos que moravam na Judeia.
O livro de Atos traz mais um
princípio muito interessante, o de “dar é melhor que receber” (ATOS 20.35), o
apóstolo Paulo registra nesse trecho que Cristo havia dito e diante disso se
fazia necessário socorrer os necessitados. O verbo grego utilizado nesse trecho
(didwmi) tem o sentido de suprir,
dar lago de livre e espontânea vontade, ser profuso, ter prodigalidade ou
simplesmente doar-se. A entrega sem espera de retorno contradiz os ditames das
relações humanas. O auxilio aos necessitados é uma exigência divina e deve ser
feito com esforço.
A igreja primitiva rompe as
barreiras do nacionalismo, por mais que seus inauguradores fossem judeus, a
igreja estaria aberta a todos. Não poderia haver favoritismo, os pobres não
poderiam ser esquecidos, a mensagem cristã deveria ser preservada e as
dificuldades existentes eram vencidas pela comunhão vivida por seus membros.
O pensamento dos apóstolos descrito
nas cartas ou epístolas também expressa o cuidado com os necessitados. O
apóstolo Paulo, autor da maior parte das paginas neotestamentárias, por
exemplo, revela um profundo amor e cuidado pelo próximo. Uma parte da teologia
paulina que esta expressada em 1Coríntios 1.26,27,28 fala de como os padrões divino difere dos
padrões humanos, a escolha divina começa com os desprezados, humildes, fracos.
Para Paulo a pobreza não pode separar o homem do amor de Deus (ROMANOS 8.35
NTLH), o serviço que Deus exige do cristão inclui repartir e compartilhar as
necessidades daqueles que estão padecendo (ROMANOS 12.13).
O próprio apóstolo Paulo levou uma
oferta doada por igrejas de algumas cidades, para os cristãos pobres que viviam
em Jerusalém (cf. ROMANOS 15.25; 1CORÍNTIOS 16.1; 2CORÍNTIOS 8.1). No capitulo
oito de 2coríntios Paulo de detém no ensino onde os cristãos devem prestar
assistência aos pobres. Segundo ele deve haver boa vontade em ajudar (2
CORÍNTIOS 8.1-5) e que essa ajuda redunda em “muitas graças a Deus” (vers. 12).
A liberalidade cristã é enfatizada nesse capitulo, a doação, que seria
coletada, também serviria aos necessitados. Na carta escrita aos Gálatas, Paulo
lembra que no inicio de seu ministério entre os gentios, num encontro com os
apóstolos Tiago, Cefas e João, ouviu deles uma recomendação importante: “que
nos lembrássemos dos pobres, o que também procurei fazer com diligência.”
(GÁLATAS 2.10).
Paulo, em Gálatas 3.28, lembra aos
gálatas que em Cristo Jesus não existe discriminação social, pois todos são um.
Paulo não nega a pluralidade humana advinda da criação, mas critica as
condições sociais discriminatórias que surgiram. Os judeus determinavam suas
ações apoiados em raça, gênero e condição social, já a relação estabelecida pelos
cristãos pautada pelo amor não cria barreiras culturais ou socioeconômicas.
De acordo com o trecho de Gálatas
6.10, a ajuda aos desfavorecidos não deve se concentrar somente aos partícipes
da comunidade cristã, mas deve ir além do convívio religioso. Isso coaduna com
o pensamento expresso por Paulo em Romanos 12.20, onde é dito: “Mas façam como
dizem as Escrituras: Se o seu inimigo estiver com fome, dê comida a ele; se
estiver com sede, dê água.”
Na epístola escrita aos efésios
(4.28), Paulo exorta aos cristãos viverem de maneira diferente, comparando a
vida pré-cristã. O estilo de vida, passado e renovado pela fé, deve ser trocado
por trabalho justo para que se tenha com o que ajudar ao necessitado. No seu
comentário do texto em questão Eberhard Hahn diz:
Uma vez que a igreja cristã é corpo de Cristo, no qual o dar e o receber recíprocos vigoram por princípio, a “igualação” representa uma função central da vida comunitária: ela inclui participar da alegria ou tristeza (1CO 12.26), mas também compensar a carência de uns com a abundância de outros! Nessa busca de igualdade o olhar dirige-se inicialmente ao irmão, mas, além disso, leva em o necessitado em geral: “Façamos o bem a todos, mas principalmente aos companheiros na fé” (Gl 6.10; cf. TT 3.14; 1JO 3.17) [4].
O apóstolo Tiago ensina que
o independentemente da condição social vivida pelo cristão, rico ou pobre,
todos deve demonstrar gratidão a Deus. Os pobres têm motivos para se gloriarem,
a sua dignidade, o rico, por outro lado, gloria-se na sua insignificância,
lembrando que tudo é efêmero. Segundo Grünzweig o trecho de Tiago
1.9-10 deve ser interpretado da seguinte forma:
Isso coloca no mesmo nível os membros da igreja socialmente diferentes e os posiciona muito perto uns dos outros. A pobreza não humilha a riqueza não exalta. Quando a questão da riqueza não parece mais tão terrivelmente importante, estão asseguradas também as premissas para a harmonização social[5].
No pensamento de Tiago o culto cristão
a Deus deve ser mais profundo que o simples rito e cerimonia. No texto de 1.27
fica claro que a pura e verdadeira religião consiste em ajudar aos órfãos e
viúvas nas suas aflições e não se contaminar com as coisas desse mundo. O
cristão não deve se afastar do mundo, porém, tem o dever de se manter puro
diante do mundo. Para o apóstolo Tiago isso é realmente possível, quando a
mensagem cristã é colocada em pratica (cf. TIAGO 1.22) e essa pratica leva ao
cumprimento da verdadeira religião.
O trecho de 2.1-17, Tiago ensina a
não fazer distinção entre pobres e ricos, dando honra aos ricos e desprezo aos
pobres devido a sua condição social e sua aparência. E lembra que os pobres
foram escolhidos por Deus para serem ricos na fé, esse pensamento lembra a teologia
paulina expressa em 1Corintios 1.26-28 e o fato de Cristo anunciar o evangelho
aos pobres descrito em Lucas 4.18. Ele lembra que o cristão deve amar os outros
como a si mesmo, mais uma vez a lei régia e lembrada. Tiago continua exortando
a pratica da fé, usa como exemplo pessoas carentes, que precisam de roupa e
alimento, que podem e devem ser alvo da pratica cristã da fé através da ação. A
fé cristã pode ser indiferente à condição do semelhante, antes expressa o amor
divino em todas as dimensões.
Para Tiago a riqueza de muitos está associada
à opressão e exploração de trabalhadores (cf. 5.3-4) e muitos inocentes foram
condenados ou mortos pelo desejo desenfreado e ganância de alguns. Devido a
isso, este serão condenados por Deus.
O apóstolo do amor, João, em sua
primeira carta transparece que a vida real e essencial consiste no amor. Ele
afirma que “Deus é amor” (1JOÃO 4.8) , que os cristãos são aperfeiçoados no
amor (1JOÃO 2.5), que a prova de amor de Deus para o cristão é o fato deste ser
chamado de filho de Deus (1JOÃO 3.1) e que Cristo deu sua vida pelo gênero
humano (1JOÃO 3.16; 4.9,10). Ele continua ensinando que devemos amar uns aos
outros (1JOÃO 4.7), que aqueles que não amam não podem conhecer a Deus (1JOÃO
4.8). A palavra amor e suas variações permeiam toda sua carta, aparece cerca de
vinte seis vezes. No pensamento joanino a falta de amor implica no triste fato
do ser humano estar morto (1JOÃO 3.15), e a prática de toda lei se resume no
amor.
João denota o amor que vincula a
comunhão entre o ser humano e Deus e a relação entre o ser humano e seus
semelhantes. Ele indaga sobre a pratica desse amor, e desafia para que o
cristão expresse não somente de “palavras, mas de fato e verdade” (1JOÃO 3.18).
Ele indaga ainda: “Se alguém é rico
e vê o seu irmão passando necessidade, mas fecha o seu coração para essa
pessoa, como pode afirmar que, de fato, ama a Deus?” (1JOÃO 3.17). O fato de
alguém padecer necessidade e ser suprido por aquele que vive abastado parece
óbvio nessa declaração. A necessidade material do próximo deve ser suprida pela
disposição auxiliadora advinda do amor de Deus nos corações daqueles que são
discípulos de Cristo.
Terminando o novo testamento, precisamente no
Apocalipse, encontramos diversas promessas que mostram o desejo divino para o
ser humano. É prometido um novo reino sem dissonâncias sociais, a fome, a sede, o sofrimento deixam de existir
(APOCALIPSE 7.16-17), uma nova terra e um novo céu é criado, o projeto inicial
do Genesis é alcançado, as promessas preditas pelos profetas
veterotestamentários se cumprem. Cristo é o rei e nesse reino não haverá mais
maldição, a morte, o luto, o pranto.
A pobreza não é desprezada no novo
testamento e aqueles que são denominados cristãos não podem ignora-la, e nem
agir passivamente diante dessa realidade cruel. A pobreza não é somente um
problema a ser tratado pelos governantes, isso fica claro pela nossa pesquisa
nas paginas neotestamentárias.
[1] Igreja Primitiva – Alusão a formação
histórica da igreja cristã, ocorrida no período de 30 d.C até a permissão da
religião cristã pelo imperador romano Constantino e oficialização pelo
imperador Teodósio.
[2] Boor, Werner de, Atos dos Apóstolos, Curitiba, Editora Evangélica Esperança, 2003,
pg.49.
[3] Os helenistas eram judeus advindos de
países ocidentais, os quais haviam adquirido um pouco da cultura grega e
falavam grego.
[4] Hahn, Eberhard, Cartas aos Efésios, Filipenses e Colossenses : Comentário Esperança.
Curitiba, PR: Editora Evangélica Esperança, 2006, pg. 59.
[5] Grünzweig, Fritz , Cartas de Tiago, Pedro, João e Judas.
Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2008, pg.76.
Quatro anos depois venho aqui solicitar três versículos que contenham as três palavra gregas citadas, traduzidas "pobre". É para aprofundar meu conhecimento.
ResponderExcluir