quarta-feira, 14 de outubro de 2015

TRATAMENTO AO ESTRANGEIRO SEGUNDO O ANTIGO TESTAMENTO



“... era estrangeiro, e hospedastes-me...” (JESUS CRISTO)




 As imigrações legais e, principalmente, ilegais tem se tornado o centro das atenções dos países da Europa e de outros países desenvolvidos
 Há quem diga que o mundo vive a maior crise humanitária, o número de deslocados e refugiados já ultrapassam a quantidade de pessoas nessas situações por ocasião da segunda guerra mundial. A estimativa é que hoje existem 60 milhões de pessoas deslocadas violentamente de suas casas por conta de conflitos políticos, étnicos e religiosos. Dessas 60 milhões cerca de 20 milhões tiveram que deixar seu país. Em 2014 a média de pessoas que tiveram que abonar suas casas e viver como estrangeiros foi de quase 42.500 pessoas por dia!
 O estudo que se segue faz parte de uma serie de estudos realizados para discutir a bíblia e a questão da pobreza.  Os estrangeiros que vagueiam sem terra, e por consequência, sem renda, acabam como marginais na  sociedade e sobrevivem em condições de total exclusão.  
  Que a igreja não feche os olhos para essa realidade.

ESTRANGEIROS, QUAL TRATAMENTO SEGUNDO ANTIGO TESTAMENTO.

 Os estrangeiros (gentio, não israelita) não deveriam ser maltratados, nem explorados. Jeová devota-lhes amor e os hebreus, também, deviam amá-los e cuidar desses estrangeiros. (cf. Deuteronômio 10.18,19). O argumento divino para que os hebreus agissem assim era simples: “Amai, pois, o estrangeiro, porque fostes estrangeiros na terra do Egito.” (DEUTERONÔMIO 10.19).
 Na lei judaica, presente em Deuteronômio 27.19, se algum judeu oprimisse algum adventício era amaldiçoado pela própria lei divina. A sobrevivência digna para o estrangeiro era assegurada por lei, se não conseguisse sustentar-se não poderia estar reduzido a uma condição de marginalidade social (cf. Levítico 25.35), as colheitas “nos campos, nas vindimas e olivais não poderiam ser de todo colhido após o varejamento, deviam sobrar alguns frutos daquela colheita afim de que os estrangeiros pudessem respigar alguma coisa deixada[1]”, o fato de os lavradores deixarem algumas respiga dava ao estrangeiro a oportunidade de juntar alimentos de uma forma digna e não mendigar.
 A pesquisa textual focada no Pentateuco leva-nos entender outro fator importante: a lei torna iguais, perante ela, estrangeiros e nativos. “Como o natural, será entre vós o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-eis como a vós mesmos, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o SENHOR, vosso Deus” [2]. (cf. Êxodo 14.29; Levítico 24.22; Números 9.15; Números 15.16). A discriminação racial não poderia ocorrer, haja vista a ordenança de Deus em tratar o estrangeiro com respeito e amor. O hebreu foi advertido por Deus para não perverter os direitos dos não hebreus. (cf. Deuteronômio 27.19).
 Outro tratamento interessante é que ao realizar algum empréstimo para o estrangeiro não era permitido a pratica de usura (cf. Levítico 25.35-37), também, este ao trabalhar deveria receber “seu salario antes do pôr-do-sol [3].
 Jó[4], enquanto questionava Deus, mostra claramente como um cidadão exemplar, também cuidava dos estrangeiros: “nunca deixei um estrangeiro dormir na rua; os viajantes sempre se hospedaram na minha casa.” (Jó 31.32)
 Há alguns exemplos de estrangeiros que tiveram êxito no antigo testamento, a ex-prostituta de Canaã Raabe (Josué 2) , o soldado hitita Urias (1Samuel 11), Rute a moça moabita ( Rute 1-4), Ornã o jebuseu (1 Crônicas 20), entre outros, deixando claro que os imigrantes, não formam esquecidos por Deus e nem pela lei.
  Nos Salmo 94.1-10 contidos no antigo testamento os autores em alguns casos clamam por justiça, destacamos um trecho a seguir:
         Ó SENHOR Deus, a quem a vingança pertence, ó Deus, a quem a vingança pertence, mostra-te resplandecente! Exalta-te, tu, que és juiz da terra; dá o pago aos soberbos. Até quando os ímpios, SENHOR, até quando os ímpios saltarão de prazer?  Até quando proferirão e dirão coisas duras e se gloriarão todos os que praticam a iniquidade?  Reduzem a pedaços o teu povo, SENHOR, e afligem a tua herança.  Matam a viúva e o estrangeiro e ao órfão tiram a vida. E dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atentará o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? Aquele que argui as nações, não castigará? E o que dá ao homem o conhecimento, não saberá? (ARC, GRIFO NOSSO)
 Os livros dos profetas também tratam de questões ligadas aos estrangeiros ora denunciando os hebreus de não cumprirem a lei divina, extorquindo e colocando os adventícios numa condição social lastimável, ora dando-lhes esperança mostrando que o Deus de Israel não se esqueceria dos estrangeiros.
 O profeta Isaías, por exemplo, fala que o estrangeiro não seria discriminado (cf. Isaías 56.3,6). Jeremias fala que uma das condições para se cumprir uma promessa para os hebreus, estes deviam cuidar dos estrangeiros (cf. Jeremias 7.1-7), e, ainda em Jeremias, os hebreus são convocados a executar o direito e a justiça, “... não oprimindo o estrangeiro...” (Jeremias 22.3). O profeta Zacarias e o profeta Malaquias, também, clamam contra a opressão imposta a estrangeiros (cf. Zacarias 7.10; Malaquias 3.5).
  O entendimento formado a partir do antigo testamento no que tange ao estrangeiro, no mínimo deve ser o de respeito, direito a uma vida digna, emprego não exploratório e que não haja discriminação para os adventícios existentes.    O cristianismo que adota o antigo testamento com escritura divinamente inspirada deve estar de olhos abertos e braço estendido para aqueles que procuram refugio.
Parnaíba 14 de outubro de 2015



[1] Pesquisa realizada no texto “Amara ao estrangeiro” de Nicolleta Crostti, p.7
[2] Levítico 19.34
[3] Texto de Deuteronômio 24.15 ARA.
[4] Personagem do livro veterotestamentário que leva o mesmo nome, onde narra a trágica história de um homem que sofre com o mal, mais por fim tem o seu sofrimento transformado em bem-aventuranças. 

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