"Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes
chamados" Efésios 4.1
Admiro aqueles jovens
decididos, que quando questionados sobre seu futuro não titubeiam e de pronto,
com brilhos nos olhos, respondem: “Serei isso, ou farei isso!”. Mas cá pra nós
poucos possuem essa audácia e essa certeza. Acredito que a maioria, e há alguns
anos me incluía nela, não consegue delinear seu ímpeto vocativo de maneira tão
clara e definida. A verdade é que o futuro não nos é confortável e, misturado a
isso, ainda temos a falta de propósitos.
Perdidos com a
incerteza do futuro e uma vida desprovida de proposito muitos jovens se perdem
na estrutura capitalista, servindo de massa de produção e com isso deixam de
lado a subjetividade para alcançar o que as empresas, onde estão locados,
exigem. Esses são descaracterizados e sem rostos, tornam-se apenas mais um na
busca pelo “sonho americano”. Outros se perdem no consumismo, na busca pelo
prazer a qualquer custo, nas distorções de imagem, comportamento. Há ainda
aqueles poucos, que se entregam a militâncias ou se agregam alguma cultura
vivendo um estilo de vida alternativo.
Independentemente da
escolha que se faz, trará consigo o reflexo e consequências profundas na vida e
no modo como se enxerga a vida. É muito importante para todos descobrirem suas
vocações, mas para o jovem de hoje isso é crucial.
É na vocação que se
encontra sentido na vida. A vocação válida a vida. Vocação, ou chamado (aqui
tratados como sinônimos), não se reduz a profissão, mas diz respeito também ao
chamado de Deus para cada um de nós e para o seu povo. Vocação é aquilo que
somos chamados a ser e a realizar, como pessoas, tanto coletiva como
individualmente[1].
A identidade de gênero, a sexualidade, o casamento, a família, a sociedade, as nações, o cuidado com meio ambiente, o trabalho, a economia, a governança política, a cultura e a espiritualidade estão contidos na benção-vocação comunicadas por Deus à humanidade como um todo (Mandato Cultural) e que permanece essencialmente inalterada desde as origens. Responder à convocação divina e cumprir a agenda proposta pelo Criador como pessoas, por meio do corpo, na história, nas interações uns com os outros e com a Terra é encontrar o sentido básico para a existência humana, pessoal e coletiva.[2]
Max Weber em sua famosa
obra “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, mostra um elemento
teológico que transformou radicalmente a noção do trabalho, esse foi o conceito
de “vocação”. Até a Reforma vocação era limitada àqueles que se dedicavam à
vida monástica. O movimento da Reforma trouxe o entendimento que vocação incluía
todas as ocupações honestas, criando assim um novo sentido às atividades tidas
como seculares.
Lutero considerou o labor diário em um emprego secular como vocação divina, assim trazendo o impulso religioso para dentro da sociedade. Calvino foi mais longe ainda, ao afirmar que o cristão deve servir a Deus não apenas “dentro” da sua vocação, num espírito um tanto passivo, mas “por meio” da sua vocação, num espírito mais ativo e empreendedor. Em suma, a vocação envolveria uma adequação entre indivíduos e seus trabalhos, conectando-nos com o propósito mais elevado que podemos ter -- o serviço de Deus[3].
É bom salientar que o
protestantismo ajudou no desenvolvimento positivo do capitalismo, mas as
mazelas criadas por este sistema são consequências do pecado e da não aplicação
integral do evangelho.
Encontrar o sentido em
todos os âmbitos relacionais do homem é a maneira que entendemos o mandato
cultural. Há termo teológico que encontramos em Weber é o conceito da glória de
Deus na sociedade, transformar os aspectos da vida social como um todo de modo
que tudo que se faz torna-se meio de honrar a Deus. Sua profissão, sua família,
suas relações, seu modo de amar e fazer arte, antes visto como algo secular e
tolerado por Deus, reveste-se de um novo sentido, com o entendimento que pela
graça e misericórdia do Criador tudo que fazemos pode glorificar à Deus. O
sofrimento acontece quando escolhemos uma vida baseada nas pressões de mercado,
ou na ganancia desenfreada, ou, ainda, no desejo de acumulo de bens. Jesus foi
certeiro ao falar: “Que adianta ganhar o mundo inteiro e perder sua alma?”.
O mandato missional não
altera a vocação cultural que o ser humano possui, porém dá uma nova dimensão a
vocação. Essa nova dimensão é o resgate e a reorganização da criação
corrompida. Nesse âmbito todos, nascidos de novo, são responsáveis por uma
faceta desse aspecto.
Todos os redimidos
foram chamados por Deus e para Deus (Isaías 43.7). Somos chamados não por
homens ou instituições, mas por Deus e o nosso serviço também estará
direcionado à Ele. Dessa forma toda a igreja é chamada, convocado a salvação,
santidade, comunhão e missão. A nossa existência não é despropositada, sem
nexo, sem compromisso, sem valor.
Você
nasceu em Cristo com o propósito de servi-lo sendo sal e luz onde estiver.
Assim, a evangelização, plantio de igrejas, encorajamento dos crentes, serviço
social e ensino da Palavranão são responsabilidade de um grupo seleto de
pastores e missionários, mas de toda a Igreja. Se você é discípulo de Cristo,
já está convocado a servi-lo com tudo o que você é e tudo o que você tem. Suas
forças, competência, oportunidades, emprego, inteligência, relacionamentos,
finanças e família.[4]
A vocação perpassa toda
nossa caminhada. E é nessa caminhada que servimos a Deus. Nossos
relacionamentos são únicos. Nossos amigos, nossos familiares, por onde andamos,
isso somente nós poderemos fazer, e somente nós, tendo em vista nossa vocação, iremos
manifestar Deus e Seu reino nessa trilha.
Mas há ainda um chamado
especifico, uma vocação especifica. São os dons que Cristo distribuiu a igreja
(Efésios 4.12). Através desses dons, presentes, que Sua igreja é edificada.
Dons específicos e que desenvolvem funções especificas. Aqueles que recebem
essa vocação, não recebem para se tornarem superiores aos demais, mas
justamente o contrario, servir.
O chamado será para
exercício, para ser realizado, ele é funcional e não se limitará a um lugar
especifico. Afinal a vocação é dada a pessoas, e isso será exercido
independentemente onde elas estiverem inseridas. Isso vai contra a ideia de
“para onde Deus me chamou”. Na realidade Ele nos chamou para exercer nossos
dons onde estivermos. Vocação é o que fazemos e não onde iremos. O artesão
não será artesão por estar em local especifico. Ele é artesão. Os pastores
serão pastores independentemente onde estejam, são pastores. Os mestres
ensinarão a palavra onde quer que estejam, são mestres.
Quando você for chamado
por Deus para um ministério não fique aflito qual local irá exercê-lo, pode ser
na praça do outro da sua casa, o Deus que te chamou te guiará para que Sua
vontade seja plenamente cumprida.
Lembra-se somente
disso, todos somos chamados e vocacionados para fazer algo no reino de Deus.
Deus não nos chama para inutilidade ou uma vida sem propósitos. Conheça mais a
Ele, dedique sua vida ao reino, coloque seus talentos a serviço do Rei, Ele te
usará.
[3]
Disponível em: http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/355/a-terceirizacao-total-e-a-visao-crista-do-trabalho,
em 24/10/15.
[4]
LINDÓRIO, Ronaldo; Vocacionados. Editora Betânia, 2014, p9.
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